28/02/2007

Como colher morangos silvestres...

"Ao atravessar um campo, um homem encontrou um tigre."
"Fugiu disparado, com o tigre atrás dele.

À sua frente se deparou com um precipício em que acabou por cair, mas conseguiu agarrar-se à raiz de uma velha videira e ali ficou pendurado.

Tremendo de medo, olhou para baixo e viu outro tigre, que o esperava despencar, cheio de apetite.

Só mesmo a videira lhe restava para salvar a vida.

Então eis que apareceram dois ratos, um branco e outro preto, que pouco a pouco começaram a roer a raiz da videira.

Foi só nesse momento que olhou para o pé da videira e reparou que ali estava um suculento morango silvestre.

Agarrando-se à videira com uma mão, colheu o morango com a outra e não se conteve:

- Hmmmm... Delícia!!"

Alma pura - e dá pra sujar?!

Alma pura como uma criança! Simples paz no coração! Faz de um ideal, revolução!
Desejo que minhas palavras fossem capazes de aplacar seu sofrimento.
Desejo que meus gestos fossem capazes de apaziguar suas ansiedades.
Desejo que minhas ações fossem capazes de diminuir sua dor.
Apenas desejos...

Muito além de meu poder questionar as razões alheias, como se fossem minhas responsabilidades, como se minhas preocupações alheias não fossem frutos de minhas próprias carências.

Esculpidas em mármore as estátuas tomam vida em minha mente, mas na realidade são pessoas como eu, que estão além de minhas expectativas e anseios.

Incomoda quando as estátuas têm vida própria, ela agem como querem e não como espero, então as aprisiono, e coloco em cada uma o pesado fardo de meu amor condicionado: agindo dessa forma serás recompensado, agindo assim serás punido.

Dizem que aqueles que procuram por coisas finitas são recompensados com coisas finitas.

Assim são as recompensas do mundo, tesouros breves que só tem valor quando comparados entre si. Ingênuas visões entre o que julgamos melhor e o que julgamos pior. Felizmente a existência não faz julgamentos e nos aceita como somos, todos especiais, sem exceções.

Tão especial como 20 Sols nascendo no horizonte, tão especial como um pequeno grão de areia sob o caudaloso rio Gangis.

Se meus desejos não têm força, gostaria ao menos de lhe dizer que sim, existe uma saída.

Sim, suas perguntas têm respostas!

Alma pura como uma criança! E Deus irá recebê-lo pessoalmente nos momentos mais difíceis. Confie e ele próprio transforma as trevas em claridade. É você que tem carregado as más lembranças por tanto tempo. O passado se foi, mas continua muito presente quando insistimos em viver no que se foi.

Coragem, não há mal que não tenha fim, nem tristeza que preencha o inevitável.

Não que o sofrimento não exista, não que devêssemos nos tornar tão frios quanto computadores e robôs, pelo contrário, o magnífico em nós e poder viver todos os extremos, todas as emoções, viver em plenitude.

Apenas tome cuidado para não se apegar, desapego é abandonar a tendência da mente em controlar os fatos, traduzindo, querer sempre o que é bom e condenar sempre o que é ruim.

Essa é a causa do sofrimento, tentar aprisionar a mudança para adequá-la ao que imaginamos ser o melhor.

E assim a vida passa, como um trator demolindo tudo a sua frente, e abrindo espaço para o novo. Quando sentimos pena do que foi demolido nos esquecemos da novidade que vêm chegando, quando exaltamos a novidade, esquecemos do que deu espaço a ela.

Nem tanto um, nem tanto o outro, pelo meio é a forma correta de caminhar sobre a corda, equilibrando-se da direita para a esquerda por sobre o abismo.

Alma pura, um morango silvestre, coloco na boca, hmmmmmmm, que delícia!

25/02/2007

Finita é sua recompensa...

Durante muito tempo observei o mundo de dentro de minha redoma de vidro, a parte e distante, protegido apenas pela aparente segurança de abundantes recursos.
Hoje agradeço por todo sofrimento que escolhi enfrentar e que me libertou desse breve e ilusório universo com "u" minúsculo.

Mente estável, coração puro.

Perdoe antes de ouvir as desculpas, assim você será capaz de acomodar generosamente tudo que existe em seu coração.

24/02/2007

Os ossos do Colecionador

Cheiro de carniça
não sei onde estão
os corpos putrefados
ou aqueles ossos já ocos
não sei

Cheiro de bebê
na sala da maternidade
vida nova enche o corredor,
aqueles ossos putrefados
nasceram de novo.

Creio, se misturam
com o odor das flores
que ainda planto, os camuflo
fingindo que não existem,
esperança despercebida de
que simplesmente não existam mais
e assim sigo

Enterrado no jardim,
tutano, ossos, músculos e pele
nem só de lágrimas e risos
vivem as pessoas,
talvez uma esperança despercebida de
que talvez simplesmente não existam mais
e assim sigo, sim sigo, mas para onde?

entre o calor do sangue
que pulsa na carne,
eles se camuflam
ou os camuflo metodicamente

entre o calor do sangue
e a frieza do olhar
as dualidades se completam em meu coração
e transmutam-se em aromas mais sutis

o colecionador somos?
Somos quem?

o colecionador é?
É o que?!

Se me faço no outro, sou osso?
Se me faço em mim, sou o outro?
Se me faço no outro, que resta de mim?

As moléculas que me formam
são as mesmas que formam tudo.
Elementos comuns, fazendo e desfazendo.
Partículas a brincar de criar Universos.

Onde termina eu começa outro?
Onde termina outro começa eu?

Expiro aliviado,
preencho o mundo de amor,
de merda ele está cheio.

Agradeço...


20/02/2007

O Colecionador de Ossos

O último espaço livre da parede foi preenchido pela manhã, o Colecionador de Ossos fez mais uma vítima essa noite.

Nem mesmo as frestas de luz abertas pela janela são capazes de ofuscar sua obsessão.

Pela casa espalham-se diferentes ossadas, todas mulheres de diferentes idades e tipos, sua paixão não é nada seletiva ou preconceituosa.

Uma a uma, noite a noite, o Colecionador busca nos cemitérios pelos túmulos mais esquecidos e abandonados.

Em sua cabeça seu trabalho é de salvação, uma silenciosa luta para resgatar memórias esquecidas, condenadas ao silêncio da vida eterna.

Conhece e chama todas pelo nome, apesar de agora serem centenas nunca as confunde ou esqueçe. A elas dedica uma atenção que provavelmente nunca tiveram em vida.

Contam que seu amor é verdadeiro porque não cria expectativas, daquele tipo que se manifesta quando não há mais nada a ser alcançado.

Quando fui chamado para fazer o laudo da cena do crime não senti em momento algum repulsa. Pode parecer estranho, mas realmente aqueles ossos enfileirados pareciam ser gratos de alguma forma pelo esforço daquele homem.

Como se de alguma forma o amor pudesse alterar a expressão da morte, dessa forma para mim seu trabalho também era de salvação.

No entanto não entendia como alguém que se dedicava inteiramente a cuidar dos mortos, pudesse cometer um assassinato tão frio.

Na sala principal o sangue seco guardava um corpo feminino, marcado com o peso de sete punhaladas.

O julgamento foi rápido, causa fácil. Diagnóstico? Distúrbios mentais. Pena? Prisão perpétua, ou como dizem nos termos legais, isolamento em hospital psiquiátrico para tratamento de doença mental.

Assim naquela noite todos puderam dormir tranquilos, com a sensação de justiça feita.

Menos eu...

Para mim aquelas punhaladas não foram de ódio, mas de medo.

Pela primeira vez aquele Colecionador de ossos se envolveu com alguém que não podia prever, pela primeira vez teve contato íntimo com um ser humano vivo, de carne e osso.

A situação pela qual sonhou durante tantos anos aconteceu, uma amante, uma pessoa que sentia seu carinho e retribuia.

Assim seu amor foi testado e ele falhou.

Depois de tantos anos de preparação, cuidando, estudando e protegendo inúmeras ossadas abandonadas ele desenvolveu uma estranha habilidade de ver a vida na morte, no entanto quando os ossos tomaram vida e se materializaram em sua presença ele estremeceu, perdeu o controle.

Para mim o que levo daquele homem é essa grande mensagem, de que quando desejamos demais por algo, no fundo temos medo de que aquilo se realize, porque caso se torne verdade não teremos mais pelo que buscar, nem pelo que sofrer.

Difícil aceitar, quem lê provavelmente imagina se tratar de um grande absurdo, mas vejo ocorrer todos os dias nas mais diferentes situações.

Portanto tudo que posso lhe fazer é uma pergunta, pela qual não espero resposta.

E você? Onde tem guardado seus ossos?


06/02/2007

Aguenta coração!

Para entender verdadeiramente o amor, a primeira coisa a se fazer é abandonar completamente a idéia de que se pode compreendê-lo.

Compreendê-lo através dos instrumentos que temos atualmente a disposição.

Imagine um telefone celular, que se comunica através de um sinal de rádio, agora imagine uma rede de internet sem fio que também use a tecnologia de transmissão por rádio.

Apesar de usarem a mesma base de transmissão, um é incapaz de se comunicar com o outro.

Da mesma forma funciona o coração e a mente.

Por isso não é possível compreender o amor, pois são esferas distintas de linguagem.

Por se basear apenas em símbolos que retratam a realidade, a mente não pode existir sem a presença e formulação de pensamentos.

Enquanto para o coração a presença ou não de pensamentos é insignificante.

A mente capta o ambiente pelos sentidos e cria uma realidade interior, repleta de julgamentos, posições e valores.

O coração apenas capta, sem filtros o que se manifesta, seja lá o que vier.

A mente restringe, compartilha e segmenta as informações para criar um mundo de acordo com suas convicções.

O coração não limita, seus domínios são infinitos, porque ele de nada toma posse. É necessário um processo lento de retorno para eliminar os julgamentos da mente e também de confiança para permitir a entrega completa na hora certa, sem segundos pensamentos, para tornar possível à abertura do coração.

Da lama germinam muitas flores lindas, assim também é a sutileza do coração.

Apenas escute essa mensagem, sem pensar em certo ou errado, quando seu coração realmente ouvir a canção do Universo, ele se abrirá sem que nada precise ser feito ou conduzido.

Deixe que sua vida seja como o verdadeiro pulsar do coração, infinito.

Normalmente a mente entende as mensagens do coração de maneira radicalmente diferente, criando interpretações de sentimentos onde eles não existem, ou como se costuma dizer, colocando asas em cobras.

Não é da natureza do amor perpetuar segundas intenções, suas ações são as mais claras possíveis, mas só são absorvidas em essência por uma mente sem filtros.

Caso contrário o sentido é deturpado.

O coração não pode fazer o mal, mesmo afastado não fere.

Ao contrário da mente que vai das juras eternas de amor, ao desejo mais frio e tenebroso de vingança e amargura.

Aqueles olhos livres de criança, capaz de amar totalmente um simples boneco de pelúcia como se ele fosse a coisa mais importante da existência.

Naquele momento aquele bicho de pelúcia realmente é a coisa mais importante do mundo, essa é a forma como o coração se entrega e abraça o momento, sem um reduto sequer de dúvida.

Aposto que você imaginou o contra ponto tradicional de infinitos pensamentos que cruzam a mente, quase na velocidade da luz, aceitando e condenando todas as expressões com a mais perfeita lógica.

Não é de se estranhar à confusão, não é possível derramar o conteúdo do oceano em uma gota de água, mas o contrario é verdadeiro, desde que você esteja pronto a entregar.

Não SE entregar, ou entregar ALGO, mas ENTREGAR!

A vida é tão antiga quanto à eternidade e dança em novos enredos e papéis a cada instante.

Caminhando sem olhar para trás, cada caminho é completo em si mesmo, aceito o desafio e o vento carrega meu corpo sem esforço, assim é, verdade mesmo, de coração...