29/04/2007

Pelas frestas da Babilônia

Em uma sociedade que enaltece a posse e o acúmulo de bens materiais, como o reconhecimento máximo de sucesso e felicidade, como podemos culpar as pessoas por buscar, lutar, mentir e roubar em nome do dinheiro?
Quando você precisa pensar em como manter seu padrão de vida, sua moradia, em como sua vida será melhor quando você conseguir tudo que sonha e deseja. Quem sabe um sítio nas montanhas com o sossego da natureza, ou uma casa própria, o carro quitado, o príncipe encantado, a mulher perfeita, os filhos perfeitos, o emprego perfeito e um pé de meia para na velhice descansar os ossos cansados.

Todos pensamentos esses que eventualmente preenchem a cabeça de todo ser humano contemporâneo, contribuindo dessa forma para tomar um pouco de tempo de nossas vidas.

Podemos chamar esses de grandes ideais, aqueles para se refletir nos fins de tarde de domingo, ou nas segundas de manhã, sozinho no carro ou no ônibus rumo a mais um dia de trabalho.

Porém, se já não bastassem essas reflexões, ainda existem os chamados "sonhos de consumo", que levam um pouco mais de nosso tempo, ao desfilarem pela cabeça. O carro do ano, celular com câmera, computador de bolso, computador de mão, computador de dedo, notebook e provavelmente mais uma porção de outros produtos e serviços para todos os tipos de pessoas e classes sociais. Produtos e serviços que provavelmente não existiam há alguns anos ou décadas atrás, mas que agora são aparentemente indispensáveis.

Junte a esses pensamentos a insatisfação e o stress do dia a dia, coloque uma pitada grande de acontecimentos, escândalos e tragédias e pronto, sua cabeça estará terminantemente a serviço do "sistema".

Não o sistema condenado pelos comunistas, nem aquele citado nas aulas de geopolítica, mas o sistema sem terminologias ou conceitos, que é alimentado e nutrido por nós mesmos, através dos julgamentos e mecanismos da vida social.

Por vida social entendo: "a repressão dos instintos para manifestação dos bons tratos sociais".

E é assim, dessa forma aparentemente comum, que TODOS seus anos serão gastos como um camelo, arrastando-se pelo deserto, reclamando das interpéres e anestesiado com miragens de oásis belos e luxuosos, perdidos logo à frente na interminável paisagem de areia. Ou pedra.

Alguns ainda despertam para isso, mas gastam toda sua energia e tempo em tomar o partido contrário de reclamar e condenar a situação vigente, mas sem nunca abandonar a caravana.

E assim o "sistema" se retro alimenta pelas duas pontas! Sutil e onipresente, justo e fiel, seguindo o know how daquilo que o homem entende por divino.

Toda sua criatividade, inocência e bondade se vão, deixados para trás em nome da "sobrevivência".

Cabe a cada um refletir o que é necessário abrir mão para seguir o caminho do sucesso.

Por favor, não me julguem como um anarquista, esse texto não é uma crítica, é uma constatação. Não vejo necessidade em condenar ou exaltar as evidências, confio plenamente em sua capacidade de discernimento.

E você? Acredita?

24/04/2007

Somos todos chuva

Uma nuvem se aproxima e anuncia a todos os seres vivos:

- Preparem-se para serem abençoados!!

Desatentos eles olham para o céu e abrem seus guarda-chuvas para não se molhar.

A chuva cai, escorregam as gotas através de seu tecido, caem no chão e não encontram a Terra.

As gotas dizem: bebam-me!

E os seres entram em seus carros para não pisarem nas poças d'água.

Mas as crianças....ah...as crianças....essas saem na rua e se deixam abençoar e pisam nas poças d´água, e abrem suas bocas elevando-as a altura dos céus para beberem a água!

E a maioria das mães esbraveja: sai já da chuva!

Que pena...elas também têm guarda-chuvas!

De que vale a chuva?

De que vale a vida?

De que vale o amor?

Senão para serem agradecidos e recebidos de corpo, alma e coração aberto?

Minha Deusa....o que estamos fazendo com nossas vidas? Dentro de nossos próprios corpos nos escondemos de você! Você está dentro de nós....e nós somos todos um só...somos você e VOCÊ É A CHUVA!

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Fisiologicamente tenho apenas um irmão, mas a vida, generosa como é, me presenteou com muitos outros irmãos e irmãs, esse texto foi escrito por uma delas, uma das especiais!

20/04/2007

Silently words

"...my words are cheap, but my heart is full of love.

When the door to the enemy is closed, the friend can´t enter either.


Sound and silence walk together, side by side.


Dive deep into silence, to the point where nothing can disturb you, even the most cheap words..."


"...minhas palavras são baratas, mas meu coração está repleto de amor.

Quando a porta para o inimigo está fechada, o amigo não pode entrar tampouco.


Som e silêncio caminham juntos, lado a lado.


Mergulhe fundo no silêncio, até o ponto em que nada pode perturbá-lo, nem mesmo as mais baratas palavras..."


15/04/2007

O Sol não dá marcha ré

"O Sol não dá marcha ré!"

Foi isso que um amigo me disse na última sexta-feira, quando resolveu discursar sobre minha vida pessoal.

Na medida que ele falava e falava eu permanecia em silêncio, apenas observando onde a mente é capaz de nos levar.

Foi assim que ele continuou:

"...porque você ainda não está pronto para tomar certas decisões..."

"...sinto que falta uma convicção interna em você..."

"...fico feliz que você esteja vivendo essas situações, para perceber que a vida não é igual ao computador, onde você simplesmente apaga as coisas que não gosta..."

"...outro dia perguntaram a um conhecido sobre o porquê dele estar feliz e ele respondeu: porque hoje acordei e percebi que meus olhos enxergavam..."

E com essa frase ele terminou:

"PENSE NISSO!"

Confesso que na sexta-feira essas palavras me incomodaram um pouco, mas depois de deixar a mente assentar percebi que refletiam pouco sobre mim e muito mais sobre os próprios reflexos que ele trazia de si mesmo.

No sábado algumas palavras me vieram em resposta, aproveito para compartilhar com vocês:

"O Sol não se move para frente, nem para trás,
É a Terra que gira ao seu redor.

Vagueando confortavelmente à deriva,
Não há maturidade a se buscar para tomar decisões,
Nem decisões a serem tomadas.

Claramente os sinais se apresentam.
Seguindo o fluxo, o fluxo segue você.

Firmemente convicto o bambu se curva ao vento.
Da arrogância não nascem flores,
nem da bondade grilhões.

Pela manhã me levantei e vi que estava cego.
Agradeci aos céus e tomei meu caminho.
Os olhos que enxergam para fora,
contemplam apenas o próprio umbigo.

O delete da vida real existe, lhe prometo.

Pensar enlouquece...
Pense nisso!"

09/04/2007

Próxima parada: O Infinito

Era 1:20hs da madruga, depois de andar mais de 50 minutos a pé, com uma dor horrível no joelho direito, tudo que eu precisava era que o ônibus passasse para me levar para casa. Ter de completar a pé o fim do trajeto naquele momento e naquelas condições iria ser desesperador.
Mas a história não começa ai, horas antes estava em Ilha Bela, quando tudo que queria era estar na cama dormindo, foi um dia cansativo e não tinha disposição para curtir a noite, ao contrário dos meus amigos que me acompanhavam.

De repente, no meio da multidão, me deu cinco minutos e decidi ir embora, dei tchau, fui até o ponto de ônibus e peguei uma lotação que estava saindo, 23hs da noite, viro para o motorista e pergunto:

- Vai para a balsa?

- Vai, mas dá uma volta grande hein!

- Tudo bem, não estou com pressa.

Depois de um tour por Ilha Bela finalmente chego na balsa e consigo atravessar para São Sebastião, eram 00:10hs de um novo dia. Chego ao ponto de ônibus e pergunto para um caiçara que estava ali:

- Oi amigo, o ônibus que vai sentido Caraguá já passou?

- Ihhh amigo, acabou de passar, o próximo é só as 1:10hs.

Maravilha! Pensei comigo. Vou a pé mesmo.

Foi assim que às 1:20hs estava num ponto bem mais a frente esperando pelo ônibus, sabia que a pé seria difícil terminar o trajeto.

Mas porque o diabo do ônibus não passava?! Já estava atrasado em 10 minutos! E nessa hora não tem trânsito, alias, não tinha nem mesmo uma alma viva na rua. Nada além da brisa que soprava gelada do mar.

Confesso que olhei para o céu e pensei:

- Puta merda! Eu sempre confio em você, mas não dá pra dar pelo menos uma aliviada de vez em quando não?! Eu nunca peço nada! Cacete!!

Realmente fiquei nervoso, talvez até por besteira, mas naquele momento estava difícil manter o controle.

Olhei mais uma vez para a rua vazia, olhei para o céu novamente e pensei:

- Tá bom! Se é assim eu vou a pé mesmo! Foda-se!

Viro de costas, dou alguns passos e ouço o ônibus chegando, dou o sinal, o motorista para uns metros à frente e subo.

Impressionante como isso foi tão significativo, uma lição sobre a confiança. Normalmente quando perdemos a esperança é que as coisas acontecem.

Se tivesse esperado mais alguns minutos, certamente teria dormido com uma tensão a menos nos ombros.

Naquela noite a vida me mostrou uma fraqueza em minha prática, com uma classe que só ela tem.

Obrigado!