29/01/2015

Post-it amarelo



"Convoque a diretoria! Reunião de cúpula! Este momento é decisivo, não se pode deixar passar essa oportunidade!"

Asteroide fluindo no espaço-tempo, eterno, milhões de anos-luz até o Sol, mais um milhão além dele. Cruzando a galáxia, sem pressa, sem meta, sem destino.

"Venda agora! Balanço divulgado, lucro congelado, crise anunciada! Veja a tendência do indicador no quadro branco, muitos especialistas especularam sobre ele!"

Asteroide único, atravessando mais um ciclo, mais uma era. Séculos e séculos, que diferença faz?  Sem campeões, sem perdedores, absoluto.

"Vamos lá! Essa é a decisão da sua carreira! Não deixe cair agora! Pegue essa arma, guarde bem, se for preciso, não hesite em usar! Fogo!"


Saudades, asteroide, saudades. Saudades de estar junto, não separado, de não se importar. Saudades de apenas ser.


Cientificamente já foi provado que há sempre algo a se provar. Provar que não somos passageiros, que temos um lugar na história, um lugar a ser lembrado. Pedestal de mármore na moderna sociedade contemporânea. Como pequeno somos nós, nessa aventura permanente de nos provarmos alguém.

Desgastado argumento de que a batalha é dura e a luta permanente. Um dia acreditei nisso também, noites acordadas pensando no futuro, mas agora não, agora é diferente, verifiquei as raízes do discurso dominante e elas estão podres.

Saudades, asteroide, saudades.